(Arquivo pessoal – Foto @theflashfotos)
O universo feminino é surpreendente, é mudança de look, de objetivos, de ambiente, mais quando uma mulher passa pela transição capilar sabemos que ali a mudança não é só visual, mais de dentro pra fora e onde temos certeza que tudo irá mudar ao seu redor.
Transição é autoconhecimento
Quando uma mulher decide mudar de maneira radical, largar tudo o que a sociedade ensinou ao logo dos anos referente a estética do nosso cabelo, que o aceitável é liso, que o bonito é o comportado, passa pela transição capilar que não muda só seu estilo, mais sua vida, com isso uma nova estrela brilha no céu, uma rainha surge e com ela uma forma de ser conhecer jamais imaginada.
Assim posso definir a entrevistada de hoje, uma rainha com personalidade forte, idealizadora do Desfile beleza Negra e produtora de moda, tenho a honra em apresenta Dai Schmidt.
Entrevista
Você se recorda como era seu cabelo quando criança?
R.: ¨Quando eu era criança, desde pequena eu fui submetida a “rituais de beleza” que buscavam esconder o volume e/ou a estrutura do meu cabelo, deixando-as mais próximas do padrão social que acabou me levando a produtos químicos. Se você observar em sua volta, vai ver que as mulheres alisam seus cabelos, então cresce achando que o cabelo liso que é bonito e tendo ideias negativas a respeito do cabelo cacheado/crespo, achando que o liso que é lindo e cabelo bom.¨
Tem sido fácil passar por esse processo de transição?
R.: ¨Quando eu decidi desconstruir minha visão que só fico linda de cabelo liso, comecei trabalhar a minha autoestima e tive o apoio das minhas amigas Maria Ulhôa e Micheline Ramalho. Confesso que elas me incentivaram muito nesse processo da transição capilar que não é fácil, é um processo de mudança interna antes e durante a transição capilar.
Passamos a lidar com questões internas e passei a reviver os preconceitos que vivi na infância, que acabou sendo doloroso, a transição mexe com a autoestima , uma vez que seu cabelo durante um período fica sem definição e é necessário que tenha paciência para que chegue ao resultado esperado. O que me fortalece a não desistir e continuar, porque sei que vou ficar linda, e existem vários processo que ajudam a passar mais rápido, como colocar um aplique para fazer o corte, tranças e outros. Como mulher negra esta sendo um processo de autoconhecimento.¨
Essa decisão de mudar, passar por uma transição capilar, causou algum impacto na sua vida?
R.: O impacto da transição capilar em minha vida é que eu consigo comunicar às pessoas o aspecto da minha personalidade até mesmo o meu estado de espírito. Como todos sabem o cabelo é utilizado por diversas culturas como forma de expressão e símbolos, aspecto de como força, status, sedução e outros. Assim como é utilizado como forma de luta, resistência como os movimentos raciais que traz à tona debates sobre o racismo e a imposição da cultura europeia sobre nós negras.
Como idealizadora do Desfile Beleza Negra, eu não me sentia confortável em usar o meu cabelo alisado. Usei por muitos anos, até porque não é fácil você desconstruir um padrão que a sociedade impõe perante o nosso padrão de beleza, principalmente que envolve a questão da autoestima. Não sou contra negras ter cabelos lisos, podemos ser o que quiser ser, mas sou contra usar químicas, para seguir um padrão de beleza que a sociedade impõe.
Você está feliz com essa decisão de mudança?
R.: ¨Muitas pessoas me perguntaram se estou feliz, eu afirmo pra vocês, estou muito feliz porque é muito bom não se sentir escrava das químicas, chapinhas e secadores. É libertador e fora isso que estou me sentindo muito mais linda que com cabelo liso. O importante hoje em dia é como eu me sinto, já deixei de dar importância na opinião do outro.¨
(Arquivo pessoal – @esquadrilhafox)
A beleza está muito além do que vemos e do que é imposto, está na aceitação, no respeito, no conhecimento, a beleza negra tem seu valor e seu lugar que merece todo destaque, que mais rainhas possam se empoderar e se inspirar no processo da Dai Schmidt, aproveito e te convido a conhecer o projeto Desfile Beleza Negra, Projeto cultural voltado a formação de modelos negros e sua inserção no mercado da moda.
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